Amor é prosa, sexo é poesia

* Retirado do site Pensador.info
Arnaldo Jabor
Sábado, fui andar na praia em busca de inspiração para meu artigo de jornal. Encontro duas amigas no calçadão do Leblon:- Teu artigo sobre amor deu o maior auê... – me diz uma delas.- Aquele das mulheres raspadinhas também... Aliás, que você tem contra as mulheres que barbeiam as partes? – questiona a outra.- Nada... – respondo. – Acho lindo, mas não consigo deixar de ver ali nas partes dessas moças um bigodinho sexy... não consigo evitar... Penso no bigodinho do Hitler, do Sarney... Lembram um sarneyzinho vertical nas modelos nuas... Por isso, acho que vou escrever ainda sobre sexo...Uma delas (solteira e lírica) me diz:- Sexo e amor são a mesma coisa...A outra (casada e prática) retruca:- Não são a mesma coisa não...Sim, não, sim, não, nasceu a doce polêmica ali à beira-mar. Continuei meu cooper e deixei as duas lindas discutindo e bebendo água-de-coco. E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito. As duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa.O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se não for eterno, não era amor” (Nelson Rodrigues). O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR. O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo. O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte.

Momento de questionamento


Alguma vez você já teve a nítida sensação de que os astros estão a seu favor, mesmo que não acredite neles?

Hoje estou me sentindo assim. O ano começou bem e algumas coisas que há anos gostaria de ter feito estão começando a dar certo, lógico que não posso ser hipócrita e pensar que o ano todo será de alegrias e festas, mas afinal de contas as coisas ruins também não são boas? Pra mim sempre são, pois são com elas que cresço e crio resistência.

Algumas coisas que acontecerão neste ano já estão povoando a minha mente, como por exemplo as Olimpíadas, que sempre me deixam com a certeza de que eu deveria deixar de lado o sedentarismo e praticar algum esporte físico (que sempre deixo para depois); as eleições municipais e aquele pensamento "a la Boechat", de que votar é apenas mais uma das minhas obrigações de cidadã e não uma vontade eminente, e principalmente como será a minha banca!Não, não estou montando uma banca de revistas nem de doces, mas a que apresentaria para adquirir o diploma. Quando penso neste assunto logo me vem a mente as dezenas de livros técnicos e de teorias que tenho que ler e das leituras que não me foram muito agradável.

Em alguns momentos me pergunto qual o verdadeiro sentido de estar cursando jornalismo e confesso que tenho medo da resposta. Será que é porque faço parte do grupo de universitários que conseguem entrar na faculdade com bolsas estudantis? Por que tive medo de passar fome se cursasse música ou artes cênicas (se bem que atualmente jornalismo não está muito longe disso!)?

Ainda ontem li em um blog, A Voz do Bugio uma frase que me deixou bastante intrigada: "Jornalismo é coisa séria demais para se deixar só na mão de jornalista" e com isso me dei conta de que a profissão é inexistente e que toda essa briga pela obrigatoriedade do diploma para exercê-lo é desnecessária, uma vez que o jornalista não é criado dentro de uma universidade, mas deve ter de nascença qualidades como gosto pela leitura e escrita. A coisa mais comum que vejo são pessoas no quarto ano da faculdade que se chateiam pela obrigatoriedade de ler determinado livro ou trecho para fazer uma prova ou seminário, que não sabem ou não gostam de escrever e que apenas se dão por satisfeitos em tirar nota média para não pegar final, pessoas que são capazes de contar com riquezas de detalhes estórias de livros como "Bianca" e "Sabrina", mas que nunca se deram ao trabalho de ler José Saramago. Não tenho nada contra romances, mas faça-me o favor!! Acredito que a universidade nos últimos anos tem servido apenas para distribuir papéis atestando que alguns anos foram passados dentro da instituição, masmo que perdendo tempo.

Para o meu TCC estou lendo atualmente uma obra do jornalista e professor Victor Emanoel Folquening, dono do blog BOP!, que é resultado de uma pesquisa que realizou com os alunos de Comunicação Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, onde analisou quais são os anseios dos estudantes quanto a profissão. Grande maioria disse que cursava pois tinha a inocente idéia de mudar o mundo, outros disseram que é porque queria estar na mídia e outros quase deixaram claro que não sabiam. Um dos depoimentos mais interessantes é o de uma aluna que diz que professores universitários são profissionais que não deram certo no mercado de trabalho e por isso são ranzinzas e ministram aulas maçantes. Não posso dizer que tenho a mesma opinião, mas não deixa de ter sentido. A maioria das aulas são superficiais, com pouca prática, que ensinam os alunos a fazer apenas "ótimas" entrevistas por telefone e e-mail e que nunca nos fazem investigar ou refletir profundamente sobre algum assunto. Acho que a culpe não é dos professores ou dos alunos, mas do conjunto em si e não se pode deixar de lado a instituição fora disso. Até bem pouco tempo era possível contar nos dedos as faculdades que haviam em uma cidade, hoje falta-me dedos para isso. Com a exigência de ensino superior para se conseguir "um bom emprego" em qualquer ponto onde havia uma placa de "aluga-se" se tornou uma faculdade e com isso a qualidade se tornou quase inexistente.

Espero encontrar o meu caminho, isso se os meus olhos não cegarem com o colírio alucinógeno!!

Uma boa notícia


Ainda pouco li uma reportagem na Folha Online, que me deixou bastante contente. Pesquisadores da Universidade de Washington, em Saint Louis, sob o comando do cientista David Sibley, descobriram que um herbicida é capaz de bloquear a proliferação do protozoário Toxoplasma gondii, o causador da toxoplasmose. A doença é muito comum em gatos, mas pode ser encontrada em outros animais e transmitida aos seres humanos. As análises estão em fase inicial, mas já mostram capacidade de inibir a criação e crescimento da bactéria. Por enquanto estudos estão sendo realizados em camundongos, mas provavelmente logo chegará a eficiência de ser aplicável em seres humanos.

O motivo do meu grande interesse e contentamento? Minha irmã, que há 10 dias contabiliza 32 anos, é portadora da toxoplasmose, adquirida ainda no útero, lhe causando degenerações físicas e mentais. Por esse motivo seus primeiros 12 anos foram dentro de hospitais, onde foram realizadas diversas cirurgias para que andasse se alguma forma. Graças a estas cirurgias ela hoje caminha, mas sempre com algum tipo de apoio.

Os bichanos são belos, mas com certeza em nossa casa jamais poderemos ter um.

Quem quiser ler a reportagem da Folha Online, basta clicar aqui e para saber mais sobre a doença, clique aqui.

Era uma vez um contador de estórias

* Cássia Gomes, Edson Machado e Lucimara Savi

"Ei, ei, você é o contador de estórias? Desculpe te parar aqui na rua, mas é que se eu perder esta chance não sei como te encontrar."

"Não tenho nenhum cartão, estávamos justamente conversando sobre isso, eu não sei fazer minha propaganda, mas tenho um papel". Lentamente e um pouco sem jeito procurou mais de uma vez no mesmo bolso o papel que ele colocaria seu telefone e e-mail, tão de vagar como a sua fala mansa. E foi sobre o livro Histórias Sagradas, de Charles Simpkinson e Anne Simpkinson, que escreveu seu contato.

A pá que lavra

Era uma vez um contador de histórias. Na verdade, ainda é, pois não morreu.

Sua voz grave e pontuada leva a crer que sempre está contando uma estória. A voz não existe sem a respiração. Os pulmões são responsáveis pela propulsão do ar. Mas os alvéolos estão escuros. Que escuridão está aqui! Foi o tabaco que o deixou assim, tão sujo. Agora me lembro, já deveria ter imaginado. Seus dedos também estão manchados pelo cigarro. Amarelos. Os mesmos dedos que discretamente retiram todo o fumo daquele beija-flor com chifres e os guarda cuidadosamente para não sujar a rua. Um paradigma.

A voz vem das cordas vocais, que ficam perto do coração. Neste contador de estórias, as emoções que passam pelo coração são gravadas. Saber de cor não é saber palavra por palavra é saber de coração. Recordar é passar de novo pelo coração. Existe um lugar indeterminado, parece estar entre os ventrículos, não tem como definir fisicamente, mas um tanque de combustível está ali. O movimento é alimentado por retornos. É, retornos das pessoas que lembram do contador e de suas estórias. Várias formas de retornos o fazem continuar contando estórias. Os mais poderosos são das pessoas que ouviram contar estórias em penitenciárias, hospitais e outros locais onde o público está mais necessitado de atenção.

Aqui, no cérebro do contador de estórias, tem muitas sinapses ocorrendo do lado direito, mas o esquerdo parece que não tem vida. Estou vendo uma portinha que está escrito ‘organização’, mas quase sempre ele não sabe onde pôs a chave. Vive num mundo real, mas não entende muito bem por que as coisas são como são. As estórias ajudam a entender melhor este mundo. Estamos cercados de mistérios. As estórias têm mistérios. Em algum lugar do contador existe também a intuição. Esta não sei onde fica, mas conta algumas estórias sem saber por que.

Vejo um ‘departamento de busca’, parece moléculas de água em ebulição. Há muito movimento e parece que não vai parar tão cedo.

Os olhos são um misto de azul e castanho. São diferentes, pois parecem enxergar além do que os olhos vêem. Olhar profundo e atento. Está ligado diretamente ao tanque de combustível, lá entre os ventrículos.

Hei, parece que está tremendo!

O que está acontecendo?

Ah, claro, vai começar mais uma contação de estórias. Ele sempre fica assim.

O ‘departamento de busca’ começa a se agitar ainda mais. Não tenho onde me esconder. Estas moléculas vão me atingir.

Quase um minuto de tremedeira e pára, mas a busca continua ainda mais intensa.

Ele fala e conta. São palavras. Palavras escolhidas e propositadamente colocadas nos lugares corretos.

Ouço uma voz. Não é dele nem minha. Diz: “a busca é pela palavra”.

Agora sei o que busca, mas não sei o que significa.

A voz: “procure na intuição”.

Mas eu nem sei onde fica isso!!!

“É um sentimento que fica no imaginário”

Eu não tenho acesso a isto. Vou perguntar para o contador, depois que ele terminar esta contação.

Então contador o que é a busca pela palavra?

É deixar a palavra contar a estória sem intervenção de gestos ou interpretação. Quanto menos intervir melhor. As pessoas fixam a atenção na estória e imaginam tudo por elas mesmas. É uma busca constante, nunca acaba. Palavra, a pá que lavra nossa vida.

Carlos Daitshman, agora que você terminou esta contação. O que você vai fazer?

Eu moro sozinho e já que o André, meu filho, foi cuidar da sua vida profissional e está morando na casa da mãe, vou a pé para casa ver como está o Deutsh, meu cachorro.

* O texto acima foi escrito com parte de avaliação da disciplina de Revista, sob orientação do professor Victor Folquening, no segundo semestre de 2007.