O desarmamento serve para desarmar o cidadão e armar bandidos

Isso vai ajudar a quem?
Essa é a pergunta que a maioria dos cidadãos se faz quando o assunto do desarmamento se torna a principal discussão social. Esta semana uma nova Media Provisória foi aprovada, a MP 390 que tornou mais de três milhões de armas ilegais em todo o país, uma vez que barrou o prazo para recadastramento que estava previsto até o final de dezembro. Pela nova MP duas novas categorias podem adquirir arma de fogo: nos órgãos públicos, menores de 25 podem possuir armas e a comprovação de teste de tiro e teste psicológico passam a ser banidos.
Com essa nova discussão volta ao centro das atenções uma questão bastante polêmica: existe relação entre a quantidade de armas de fogo e o número de homicídios? Um estudo realizado pela Unesco em 2004, chamado Vidas Poupadas, afirma que sim. O estudo mostra que depois do surgimento do Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o número de mortes diminuiu em 8,2%, comparando os anos de 2003 e 2004. Em 2003, o número de mortes por armas de fogo chegara a 39.325 mortes e em 2004 foram 36.119. No Paraná ,no entanto, não houve quedas. A pesquisa da Unesco afirma que os crimes com arma de fogo cresceram em 1,7% entre 2003 e 2004.
Somente neste ano, o Corpo de Bombeiros atendeu 2003 ocorrências por arma de fogo no Estado. No Paraná, o número de armas, de acordo com Sinarm (Sistema Nacional de Armas), de 1980 até o mês de julho deste ano, mais de 215 mil armas já foram regularizadas. Para as vítimas a Estatuto do Desarmamento não interfere em suas vidas. Para Jean Nunes de Oliveira, 25 anos, “mesmo que não tivesse armas teria sido agredido do mesmo jeito”. O caso de Oliveira se assemelha ao de muitos outros. Em abril de 2003, quando estava indo a uma mercearia comprar refrigerante, encontrou uma pessoa com quem tinha discutido há alguns anos, por causa de uma namorada, o seu rival disparou diversos tiros e Oliveira começou a correr, mas um dos tiros acertou a sua coxa. O tiro lhe causou a amputação de sua perna direita. O agressor, conhecido como Careca, não foi preso e ainda hoje eles se encontram. Para Oliveira o crime teria acontecido mesmo se não existissem armas, pois, para ele “quem quer tirar a vida de outra pessoa, não se preocupa com a lei, de qualquer forma faria com uma faca ou acaba conseguindo uma arma, só o cidadão comum não consegue se proteger”.
Para o sociólogo e coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “onde existem mais armas é maior a probabilidade de haver mais homicídios e suicídios”. Já para o especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil, Benê Barbosa, o fato de existirem mais armas não interfere no número de mortes. “Fizemos pesquisas que apontaram que no Rio Grande do Sul, santa Catarina e Paraná, por exemplo, onde há proporcionalmente mais armas legalizadas, havia menos registros de homicídios”.
Para quem está do outro lado, como é o caso de Elenildo dos Reis, 32 anos, viciado em heroína e dono de uma arma calibre 12, tanto faz existirem leis ou não. “Sempre que eu quiser vou achar uma arma e quem me queira vender, principalmente os policiais que são bons negociadores”. Já para Leandro Martins, 29 anos, “as armas são boas, se fossem ruins porque a polícia usaria?”. Leandro conhece bem o poder das armas, já que ele tem 12 balas espalhadas pelo seu corpo, lembranças de uma discussão com um traficante de São Paulo. No dia da discussão ele estava na companhia do seu irmão mais velho, que levou apenas um tiro e morreu. “Quando tem que morrer morre de qualquer jeito, até co uma picada de abelha. Meu irmão tinha que morrer e por isso foi pra outra.” Já no seu caso ele diz que não tem medo e que nem por isso deixou de usar cocaína, motivo pelo qual seu irmão foi morto. “Só Deus sabe a minha hora”.

Faz tempo

Faz um tempão que não posto nada. Tirei férias no serviço e na facul e a preguiça tomou conta de minha alma. Parece que os 21 pesaram nas minhas costas... imagino quando chegar nos 50!!!
Por falar em idade acabei de fazer aniversário e acreditem... nada mudou, é como se ainda tivesse 20...
Fim de ano é sempre a mesma coisa: caimos na realidade de que um ano passou e que deixamos de fazer muitas coisas e que a maioria das metas planejadas no final de ano não foram cumpridas, em compensação muitas outras jamais imaginadas foram exercidas com exito.
Bom, para o próximo ano minhas metas são: me mudar para a nova casa, terminar a faculdade e ser muito feliz.
Ah, para a minha felicidade estou trabalhando para o desenvolvimento de um projeto que com certeza vai mudar o cenário da comunicação paranaense!!! Pessoal do Ethos, vamos botar pra quebrar!!!
Bom, depois de todos esses blá, blá, blá... gostaria de desejar a quem tiver paciência para ler isso (se é que alguém lê) um ótimo ano novo e prometo que vou tentar cumprir o meu papel de jornalista e escrever mais!!!

Paz e bem

Participação das mulheres nos espaços de poder: um desafio para a igualdade

Por Lucimara Savi

“Não basta apenas ser mulher, tem que aderir a causa”. É assim que Rosani do Rosário Moreira se posiciona em relação ás mulheres que ocupam cargos públicos. Segundo ela, muitas mulheres que estão em lugares que poderiam ajudar a beneficiar a causa feminina simplesmente se omitem. É o caso de mulheres na política.
Rosani é ativista paranaense da Marcha Mundial das Mulheres, organização esta que desde 1995 reúne feministas do mundo todo que lutam por justiça e pedem simplesmente “Pão e Rosas”, símbolo de melhores salários e dignidade. Este grupo, em conjunto com o governo Lula, a Assembléia Popular e outros movimentos se organizou para pressionar o governo a romper com os aspectos conservadores de sua política. O primeiro alvo foi a política econômica, buscando a melhoria e valorização do salário feminino no Brasil, pois mesmo desempenhando as mesma funções que o sexo oposto recebe menos pelo serviço prestado. As militantes reconhecem que estão lutando contra gigantes no mundo inteiro, seja o governo ou preconceito. “Nesta luta sei que somos minoria, mas uma minoria de peso, de consciência determinação, declarou Sara Leite”.
A luta em favor de melhores rendimentos, contra a violência sexista e saúde feminina não se limita ao dia oito de março, Dia Internacional da Mulher, mas “é uma luta constante e diária. Não lutamos apenas por direitos iguais, também contra a miséria, violência doméstica e todos os assuntos relacionados aos nossos direitos”, afirma Rosani. Sobre a violência doméstica Sara explica que muitas mulheres vítimas não sabem como agir e nem a quem pedir ajuda e mesmo as que sabem têm medo, pois após uma denúncia terão que retornar a companhia de seu agressor. Para resolver esta questão elas apresentaram ao governo de Roberto Requião a criação de um abrigo onde as violentadas possa se refugiar juntamente com seus filho. Na cidade existe ainda a Delegacia de Mulher, que atende em média de 11 ocorrências por dia, e o Centro de Referência, que oferece atendimento psicológico e jurídico as mulheres em situação de violência.
O desafio de criar políticas públicas efetivas que alterem a qualidade e as condições de vida das mulheres através de uma secretaria municipal específica fez parte da pauta dos principais temas debatidos na I Conferência Municipal de Políticas para Mulheres de Curitiba, realizada entre os dias 31 de março e 1º de abril, no Unicemp. O evento reuniu aproximadamente 700 pessoas para debater o papel da mulher na sociedade, onde tiveram a promessa e garantia de tomadas de decisões que valorizem e se voltem para as causas femininas.

* Esta reportagem saiu na edição de maio do Jornal Laboratório Capital da Notícia

Abordagens e teorias sobre o produto: NOTÍCIA

Por: Lucimara Savi e Cássia Gomes

Jorge Pedro Sousa faz parte do grupo de estudiosos que afirmam que já há estudos suficientes para compor uma teoria da notícia. Os pontos de partida para estudos da notícia foram as perguntas: Por que as notícias são como são e por que é que temos as notícias que temos? Como circula a notícia, como é consumida e quais os seus efeitos? O artigo não apresenta apenas afirmações e defesas da ideologia de seu autor, mas também confronta com estudos de outros pesquisadores.
Para embasar seu artigo o autor utilizou estudos de teorias universais como agenda setting e gatekeeping, entre outras, e estudos mais recentes de pesquisadores que em outros países tiveram a mesma preocupação que Sousa. Todos os autores partiram da 1º etapa que se refere à produção do artefato lingüístico, onde, fatores de natureza pessoal, social, ideológica, histórica e do meio físico e tecnológico são os responsáveis diretos pela finalização da notícia nesta fase. A notícia verdadeiramente passa a existir a partir do efeito que gera em seu leitor, pois, através dos meios de comunicação, principalmente jornalísticos é que a sociedade tem informação sobre a realidade que o cerca.
Os estudiosos da notícia dividem-se em dois grandes grupos, são eles: Divisionistas; afirmam que apesar de todos os estudos já realizados não há material e conhecimento suficiente para a criação de uma teoria do jornalismo, pois tais estudos são semelhantes, porém contraditórios. Unionistas; grupo este que Sousa faz parte, não nega que há várias possibilidades de estudos que isolados são insuficientes para criar uma teoria, mas são fatores que em conjunto resultam em uma única teoria que explica porque as notícias são como são.
Para Sousa uma teoria científica deve ser simples, clara e direta. O autor não contente em explicar que a teoria da notícia é científica, elaborou também uma fórmula matemática, sendo ela: N= f (Fp.Fso.Fseo.Fi.Fc.Fh.Fmf.Fdt.Fh).
As teorias dos estudiosos deixam uma lacuna pela falta de apresentar dados concretos sobre os efeitos das notícias no receptor. Todos os pesquisadores partem do mesmo princípio, que é a produção e intervenção do jornalista, para o seu resultado, o efeito que gera na sociedade e toda a discussão fica apenas em torno de haver estudos ou não para uma única teoria. Para sustentar a nossa opinião de que não somente o jornalista é o maior responsável pelo produto final que é a notícia, apresentamos a opinião do autor Luiz Costa Pereira Junior, que no livro A Apuração da Notícia afirma que “o jornalista não é o único produtor da notícia, nela interfere fatores tais como: atuação de sujeitos, veículo, convenções da rotina profissional e interesses corporativos. Além disso, interferem ainda hierarquias, filtros, barganhas, hábitos incorporados, improvisos forçados pela pressão do fechamento, regras da organização que tornam a informação, resultado de uma manipulação em cadeia nem sempre condicionado por apenas um agente produtivo. O preparo técnico por si só não é garantia de um bom jornalismo.”

Entendendo as diferenças de pesquisas qualitativas e quantitativas

Os autores Martim W. Bauer, George Gaskell e Nicholas C. Allum no livro Pesquisa Qualitativa com Texto Imagem e Som desvenda e explica, de forma clara e objetiva, como fazer uma pesquisa com coleta de dados.
No primeiro capítulo, os autores vão diretamente ao assunto e falam qual o verdadeiro objetivo de sua obra, e, para isso, apontam as principais diferenças entre pesquisa qualitativas e quantitativas.
Em todo o capítulo, nomes de filósofos e cientistas, como Cranash, Myer, Dunker e Habermas, para sustentar suas explicações de como é e quais as principais diferenças da pesquisa qualitativa e quantitativa. O texto serve como um roteiro para quem quer fazer uma pesquisa. Como o foco dos autores é a pesquisa qualitativa, no primeiro capítulo eles apenas a diferenciam da quantitativa.
Durante a explicação, é possível perceber que alguns pontos são considerados mais importantes pelos autores, como: o distanciamento das fontes, a clara visão do que é verdadeiro e o que é dito para agradar o entrevistado. Os três pontos principais da entrevista são: delinear as metas e objetivos da pesquisa, coletar os dados e fazer a apuração e análise. É a partir destes três pontos que os autores explicam o passo-a-passo de como fazer e quais os cuidados que devem ser tomados. Fala dos métodos de pesquisa com o objetivo de esclarecer procedimentos, boa prática e responsabilidade pública. Aborda as diferentes maneiras de coletar dados e diferentes tipos de dados relacionados a texto, imagem e som; a construção do corpus, entrevistas individuais e grupais, entrevista narrativa e episódica, vídeo, filme e fotografias.
Vejo o capítulo e o livro como uma fonte de conhecimento e de raro valor, pois os livros normalmente falam sobre pesquisas qualitativas e quantitativas, este, ao contrário, exemplifica e diz como fazer uma boa pesquisa sem correr o risco de ser apenas um trabalho sem fundamentos. É uma fonte de apoio seguro e qualificado, escrito por pessoas que são especialistas sobre o assunto que estão tratando.

Indústria Cultural vai a Julgamento 5

Em entrevista concedida na noite de ontem ao programa "A Voz da UniBrasil", realizado por alunos do 6º período, o coordenador do curso de jornalismo, Victor Folquening afirmou que este foi o melhor julgamento que participou, apesar de já te-lo realizado em outra instituição, pelo fato de os alunos todos trabalharem unidos e tentando fazer o melhor trabalho. Ele ainda disse que concorda que houve muitas falhas, até mesmo pessoais, mas que os principais erros não foram dos alunos que estavam atuando ou simplesmente assistindo, mas dos equipamentos que resolveram não colaborar para o bom andamento do trabalho. "houve falha até mesmo minha por não ter testado os microfones antes da sessão começar, teve a TV que não quis funcionar". Para o próximo julgamento, que será realizado no primeiro semestre de 2007, Folquening espera conseguir mais recursos "como telões espalhados pelo auditório para que os alunos possam cobrir em tempo real todos os acontecimentos. Os alunos gostam de TV porque ela chama a atenção, e é importante que tenhamos mais este recurso para a prática jornalística dos alunos."
O julgamento será um evento oficial da faculdade e, de acordo com Lálika Standinik, aluna do 6º período noturno, que ajudou na coordenação do evento, "este é um importante evento para que os alunos possam aprender na prática o que aprendem todos os dias na teoria". Ela, que já participou afetivamente em julgamentos em outra instituição, diz que esse foi o melhor que participou, já que foi quase que inteiramente elaborado pelos alunos. Lálika ainda faz uma crítica aos que disseram que não se envolveram na atividade por falta de tempo. "Não adianta vir com o discurso pronto de que acorda às cinco horas para ir trabalhar e que por isso não pode participar, quase todo mundo faz isso", afirmou ela que minutos antes de entrar no estúdio havia dito que dorme todos os dias até o meio-dia.

Indústria Cultural vai a Julgamento 4

Após o julgamento da indústria cultural, que teve sua absolvição, o coordenador do curso de jornalismo, Victor Folquening, elogiou os alunos que trabalharam para que o evento fosse realizado da melhor forma possível e parabenizou àqueles que não tiveram medo de trabalhar, mesmo com a precariedade dos equipamentos, que dificultou um pouco o pleno segmento do julgamento. Apesar de esta não ser a primeira vez que Folquening organiza um evento deste modelo, ele afirmou que esse foi o melhor que teve o prazer de participar e ter seu mérito por ser um dos organizadores.
Alunos de todos os períodos de jornalismo participaram dos diversos segmentos do jornalismo, como na assessoria de imprensa, produção de fanzines, programas de rádio e TV ao vivo, jornais especiais e atualização e criação de blogs. Segundo Folquening o objetivo do julgamento é "aliar teoria à prática e formar pessoas para mudar o mundo". O aluno Claudio Daniel Matos, juiz da sessão, começou o seu discurso lendo um texto de repúdio a uma publicação do tribunal, onde ele se dizia "alienado" pela mídia, quando o mesmo informa que não proferiu tais palavras.
Algumas turmas de jornalismo tiveram que vencer a falta de tempo pra a criação e cumprimento do que foi designado, mas como muitos afirmam serviu para o crescimento profissional e já serve como uma prévia para a semana de jornalismo, que será realizada no mês de outubro.

Indústria Cultural vai a Julgamento 3

A sessão do julgamento da indústria cultural que estava prevista para iniciar às 19 horas, começou com um atraso de meia hora e foi marcado por diversos problemas. O juiz da sessão, Claudio Daniel Matos, demonstrou pouca, ou nenhuma autoridade durante o julgamento e diversas vezes ameaçou pedir a expulsão de todos que estavam no local. Isso sem falar na sua irritante mastigação de chiclete durante o julgamento
A acusação, representada pelos alunos Cleverson Dias Bravo, Eduardo Maia e Robson Custódio, apresentou duas testemunhas, sedo uma delas a premiada jornalista Vânia Mara Welt e a professora Marta Kosmoski Machado. A primeira testemunha apresentada foi Marta, que afirmou que "a Indústria Cultural acabou com a essência da família. Nos conselhos de classe as professoras podem perceber como as crianças necessitam de mais apoio dos pais.As novelas e noticiários não ajudam o sistema escolar". Já Vânia contou o caso dos "Bruxos de Guaratuba", que a mídia julgou como sendo culpado quem na realidade era inocente, e lembrou que o mesmo aconteceu no caso "Escola de Base". Os promotores optaram por uma atuação ao estilo americano, onde quando um fala a outra parte tenta desconcentrar os jurados. Mandrik fez isso comendo um apetitoso lanche com a boca aberta, coçou partes do corpo e espreguiçou-se. A defesa apresentou apenas uma testemunha, que descobriu-se como sendo parente da advogada Vanessa Cordeiro e que foi apresentada com o intuito de comover os jurados, uma vez que Gisele Barbosa Batista é deficiente física.
O discurso de ambas as partes foi pouco fundamentado e convencedor, chegando, em alguns momentos se tornar uma discussão pessoal entre defesa e promotoria. O auditório que não comportava o número de pessoas que estavam na primeira metade do julgamento foi substituída por cadeiras vazias e espectadores com cara de "poucos amigos".
Apesar de acusadores e defensores não terem conseguido chegar a um consenso do que é ou não indústria cultural, a defesa levou vantagem em fazer um discurso voltado aos jurados, enquanto os promotores tentaram mostrar inteligência citando Adorno, Mercuse e Marilena Chauí. A vantagem e melhor desempenho da defesa puderam ser vistas no resultado do tribunal, que terminou com a absolvição por quatro a três, a favor da indústria cultural.

Indústria Cultural vai a Julgamento 2

Foi realizada na noite de ontem, quarta-feira, dia 19, a coletiva de imprensa do julgamento da indústria cultural. Estavam presentes no evento os organizadores e coordenadores dos cursos de jornalismo e direito, além de todos os assessores e jornalistas da instituição. A sessão foi presidida pelo organizador e mestre Felipe Harmata Marinho e fez a mediação da apresentação da promotoria e defesa.
Os promotores que farão as acusações e tentarão provar a culpa da indústria cultural de alienar e coisificar as massas serão os promotores locais Cleverson Dias Bravo, Eduardo Maia e Robson Custódio. Para defender a indústria cultural, representada pela aluna Katy Mary de Faria, os escolhidos foram: Fábio Mandrik, Vanessa Cordeiro e Israel. Os promotores e advogados da defesa são alunos do segundo período de jornalismo. Claudio Daniel Matos, aluno do 10º período de direito foi o escolhido para encarnar o juiz.
A coletiva de imprensa foi um verdadeiro fracasso para os advogados de defesa, que se recusaram em responder às perguntas que os jornalistas lhes faziam. A promotoria de forma perspicaz e inteligente fez ataques a sua oposição e levou considerável vantagem. A defesa preferiu preservar a ré e por isso foi bastante criticado pelos presentes, que saíram da coletiva com as mesmas ou mais perguntas.

Indústria Cultural vai a Julgamento

Jovens de 17 a 20 anos estão concentrados apenas no tribunal que vai ser realizado em poucos dias na Faculdades do Brasil – UniBrasil. Para os alunos do segundo período de jornalismo, Cleverson Dias Bravo, Eduardo Maia e Robson Custódio, que vão representar a promotoria no evento, a vida deixou de ser igual há seis meses, quando tiveram que deixar de lado os interesses pessoais para dar lugar aos importantes acusadores. Bravo, 18 anos, que é apaixonado por futebol conta que "às vezes dá um desespero e dá vontade de jogar tudo para o alto", mas logo se lembra de todo o esforço que fez até aqui e de toda a dedicação dos seus colegas, além da reputação que terá o julgamento, e logo se sente animado novamente. Ele ainda desabafa que até mesmo a família te sido deixada para segundo plano. "No último dia 12 nasceu mais um membro da minha família, e eu sequer tive tempo para conhecê-lo...".
A história não é diferente para Eduardo Maia, 20 anos, que teve que "dar um tempo" em sua rotina, que assemelha-se a de tantos outros jovens, para se dedicar à acusação da indústria Cultural. Para Robson Custódio, de 17 anos, a sua rotina habitual foi totalmente modificada, "não dá para dormir nem comer direito, sempre toca o telefone ou tenho que sair correndo para mais uma reunião". Que todos estão enfrentado dificuldades isso é certo, mas nada tira a vontade e o entusiasmo dos três excelentíssimos promotores. Quem quiser acompanhar de perto toda a preparação dos promotores, deve comparecer ao auditório do bloco 6, às 19 horas de quinta-feira, na rua Konrad Adenauer, 442, no Tarumã.

O merchandising social das novelas globais









A novela, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas um meio de entretenimento e lazer, mas é um amplo e vertiginoso canal de comunicação entre a mídia e a população. Mensagens importantes a sociedade são transmitidas através da novela, temas que muitas vezes não são tratados por mídias mais comuns como os telejornais. Uma marca crescente nas novelas têm sido o meio mais eficaz para a reivindicação dos direitos do cidadão comum.

A primeira novela global a desempenhar um importante papel social foi Explode Coração, escrita por Glória Perez em 1995, mas o engajamento da novelista com os fatores sociais começou quando ela ainda era da TV Manchete, onde incluiu o tema Aids na novela Carmen (1986). Pode-se dizer que Glória foi a pioneira em retratar o assunto e produzir o que hoje conhecemos como merchandising social. - Dados históricos mostram que a primeira telenovela a implantar temas polêmicos foi Véu de Noiva, que estreou no final de 1969. É aí que se inicia a quarta fase, em que as novelas "quebram" tabus e mostram situações de violência e homossexualismo. As três fases anteriores foram: A novela ao vivo, como Sua Vida me Pertence, de 1951, na TV Tupi; a telenovela diária, que começou com 2-5499 Ocupado, da Tv Excelsior, que foi ao ar em 1963; a novela com linguagem genuinamente brasileira e que falava da realidade, foi estreada em Antonio Maria, de 1968-69, mas que teve o modelo consolidado em 1969 com Beto Rockfeller.

O mais interessante dessas inserções é que subliminarmente ela gera mobilização social. Em Explode Coração o tema que prevaleceu foi o de crianças desaparecidas. Na trama a personagem Odaísa, vivido por Isadora Ribeiro, era uma mãe que sofria com o desaparecimento do seu filho Gugu (Luis Cláudio Jr). Em sua busca, Odaísa juntou-se às verdadeiras Mães da Cinelândia, no Rio de Janeiro. No capítulo do dia 9 de março de 1996, a novela mostrou a foto de uma criança desaparecida havia dez anos. Seis dias depois, a mãe reencontrou o filho, que havia sido levado pelo próprio pai. Até o seu fim, a novela ajudou a localizar outras 64 crianças desaparecidas na vida real. Na época, por causa da pressão social, até foi criado uma delegacia especial para tratar do assunto. Mas a instituição saiu do ar praticamente com a novela. Mais de 100 crianças desaparecidas foram encontradas ao longo da novela e posteriormente. A novela também tratou de variados temas, como o preconceito de que são vítimas os ciganos, a questão do homossexualismo, o comércio de órgãos humanos e o tráfico de crianças.

Os jovens são alvo de boa parte das campanhas, principalmente porque são os mais ativistas, mesmo que hoje não existam mais jovens como na época das Diretas Já. Tanto que a série Malhação é o programa recordista de inserções. Só em 2002 foram 330. Em destaque, uso da camisinha, drogas, saúde da mulher, gravidez não planejada, alcoolismo, homossexualidade. Em 1999, a personagem Érica, vivida por Samara Filipo, descobre que é portadora do vírus HIV. Um impacto e tanto para o horário das 17h30.

Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos, tratou do tema dos direitos do idoso e os problemas que eles muitas vezes enfrentam dentro da própria casa. A trama foi realizada com a boa interpretação de Oswaldo Louzada e Carmen Silva, que sofria maus tratos da neta. Por causa deste mesmo assunto uma questão que estava parada no Congresso Nacional foi retomada: o projeto de lei que criava o Estatuto do Idoso. Isso aconteceu graças a mobilização social dos expectadores. Em Mulheres Apaixonadas, além dos idosos, houve outros assuntos importantes e basicamente desconhecidos, como mulheres que sofrem violência em casa. E, através da personagem Heloísa, vivida por Giulia Gam, a novela também trouxe à tona um drama muito comum, as mulheres que amam de forma descontrolada, e a informação de que há tratamento.

Mulheres Apaixonadas é uma das produções mais lembradas quando se fala em merchandising social, e tem esse mérito ao tratar o lesbianismo, o alcoolismo, o câncer de mama, a violência doméstica contra a mulher, a maneira como a sociedade trata os idosos, etc. Várias outras novelas já mostraram aos brasileiros mais simples, o problema das crianças desaparecidas, a clonagem humana, o movimento dos sem-terra, a eutanásia, o hermafroditismo, barrigas de aluguel, transplante de coração, impunidade, crimes do colarinho-branco, prostituição, corrupção na política, gravidez precoce, aids, charlatanismo religioso, reforma agrária, drogas, etc.

A produção anterior de Manoel Carlos já tinha colocado um assunto em “cash”, que foi a leucemia de Camila, interpretado por Carolina Dieckmann, em Laços de Família (2000), que mobilizou milhares de pessoas em todo o país a se tornar doador de medula óssea. Segundo dados do Ministério da Saúde o número de doadores, durante a novela, passou de 20 para 900 inscrições ao mês.

O engajamento em questões sociais não acontece somente por parte de quem assiste, mas também, e principalmente, por quem interpreta. É o caso do ator Pedro Paulo Rangel, que interpretava o garçom Vicente, que não sabia ler nem escrever e foi alfabetizado pela professora Cecília, vivida por Cássia Kiss, e que durante e após Sabor da Paixão ‘adotou’ cinco alunos adultos da campanha nacional “Alfabetização Solidária”.

Ao contrário do jornalismo, que fala com linguagem elitizada e que os brasileiros muitas vezes não se dão conta da mensagem que está sendo transmitida e simplesmente lê, ouve ou assiste, as produções da teledramaturgia agrada aos expectadores, pois consegue prender e torna-los ‘seguidores’ e por isso as mensagens de impacto social, que são transmitidas por elas, tem enorme capacidade de conscientização, mesmo que subliminarmente e faz com que gere um movimento para que o assunto seja discutido pela sociedade real.

P.S.: Eneus Trindade em seu artigo publicado no intercom de 2001, que a telenovela pode também assumir várias funções: O merchandising social pode ser utilizado para educar a população, mas pode ser um instrumento perigoso de manipulação e controle da sociedade. Seu discurso é persuasivo, levando o telespectador a ter uma opinião ou adquirir um comportamento parcial, provocado por interesses que não lhes são próprios. O objetivo da ação de merchandising é estimular o mecanismo empático, identificatório com a realidade reproduzida na telenovela, o que proporciona uma forma de manipulação da opinião pública, pois o público passa a crer e fazer uso dos valores transmitidos pela telenovela, os incorporando no seu dia a dia. A partir destas colocações, constata-se que o merchandising tem implicações em relação ao processo criativo e de produção do autor e éticos como toda forma de comunicação publicitária, que não mede esforços para causar impacto e estimular as vendas.

Água para todos


É incrível que apesar das estatísticas de que a água potável está acabando do planeta, os considerados “os melhores seres da terra”, não se dão conta do que está sendo dito e não se incomodam em deixar a torneira aberta sem necessidade ou em jogar um papel pela janela do carro, pois afinal é como eles dizem: ‘’não sou só eu que faco isso”! E ainda são capazes apregoar que “o homem é o único ser pensante” (imaginem se não fosse).

Na minha ampla ignorância não vejo outros culpados pelo esgotamento da água, a não ser nós mesmo. Quem nunca ouviu seu pai ou avô dizer que o riozinho que passa perto da casa era tão límpido que podia-se beber da água? Cenário que com certeza não faz mais parte do nosso cotidiano e que não fará dos meus filhos e netos (isso se eles chegarem a conhecer o que é água).

Ainda hoje li uma crônica de Martha Medeiros, jornalista do Jonal Zero Hora de Porto Alegre, onde ela cita uma sábia declaracão de Washington Olivetto. Ele diz que há no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura), os pobres-ricos (que não têm dinheiro mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas idéias) e os ricos-pobres, que são a pior espécie: têm dinheiro mas não gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias, shows ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.

É necessário exemplos? Pois a Martha dá:

“Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele pôde comprar, no fundo é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial.

Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para ir além do óbvio. Só têm dinheiro. Os ricos-pobres pedem no restaurante o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém, vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas, viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet, possuem tevês de plasma em todos os aposentos da casa e só assistem programas de auditório, mandam o filho pra Disney e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha para eles, pelo amor de Deus. ”

O resultado disso tudo é algo bem simples: a natureza se volta contra o homem. Aliás, se pararmos para pensar a água é algo incrivelmente simples, mas jamais reproduzido em laboratório.

Comentário publicado originalmente no blog da Manalais Comunicação http://blog.manalais.com.br/2007/01/17/agua-para-todos/ em 17/01/2007

As mulheres

Arnaldo Jabor


O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê?
O sujeito quer ficar famoso pra quê?
O indivíduo malha, faz exercícios pra quê?

A verdade é que é a mulher, o objetivo do homem.

Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função de você.
Vivem e pensam em você o dia inteiro, a vida inteira.
Se você, mulher, não existisse, o mundo não teria ido pra frente.
Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar outro homem, para conquistar um sujeito igual a ele, de bigode e tudo.

Um mundo só de homens seria o grande erro da criação.
Já dizia a velha frase que "atrás de todo homem bem-sucedido existe uma grande mulher".
É você, mulher, quem impulsiona o mundo.
É você quem tem o poder, e não o homem.
É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o local das férias.
Bendita a hora em que você saiu da cozinha
E, bem-sucedida, ficou na frente de todos os homens.
E, se você que está lendo isto aqui for um homem,tente imaginar a sua vida,sem nenhuma mulher: aí na sua casa,onde você trabalha, na rua...
Só homens...
Já pensou?
Enfim, um mundo sem metas.

Chegou a sexta-feira, enfim....

Mas afinal, qual o motivo de tanta felicidade apenas pela chegada de um dia, que é como tantos outros???
O verdadeiro motivo para tanta felicidade pela chegada do penúltimo dia da semana, é porque com ele vem todas as ansiedades do fim de semana.
É a certeza do abraço entre amigos que se visitam...
É a mãe que vai receber o filhos e os netos para o almoço...
É o ator que vai estrear a sua nova peça....
É a mocinha que vai fazer a sua tão sonhada festa de 15 anos...
.... é, realmente muitas coisas a serem comemoradas....

Existe, porém, aqueles que não percebem que os dias, os meses e os anos se passam, pois estão a mercê de um problema muito maior, que é a possibilidade de encontrar com o que se alimentar e onde dormir. Não há amigos para encontrar, filhos para abraçar, viajens a fazer, teatros a assistir. Na realidade assistem ao teatro sim, mas o de suas próprias vidas, onde representam o filho rejeitado por um pai soberbo.

E para mim, o que representa a sexta-feira??
Dia de trabalho, faculdade.... o melhor mesmo é quando o dia termina e posso ser recebida com um abraço acolhedor por aquele que ama, que me pergunta como foi o dia... é o sábado que mais me agrada, quando posso ir ao encontro de minha geradora, receber os seus afagos e votos de eterno amor... quando posso ver os frutos de minha irmandade sorrindo e pedindo para que brinque ou lhes ensine algo ....

E assim se vão os meus dias e de todos aqueles que andam a passos largos em busca de riquezas e felicidade individual, muitos nem percebem que na beira do seu caminho há pobres, infelizes e rejeitados.

O Bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

As 'oreias' em Curitiba



Hoje Curitiba recebe a visita do sr. presidente da República. Qual será a pérola que ele vai soltar dessa vez??? A última e memorável foi a que ele tem duas "oreias".

Ele vem para lançar o programa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que vai investir principalmente na Região Metropolitana, em especial em Piraquara. Oa todo, o Paraná receberá um orçamento de 1,2 bilhões de reais.

Como pode alguém achar que tem o direito de estragar o já caótico trânsito de Curitiba em plena sexta-feira???

Pena que no Brasil não há manifestações como o contra John Kenneddy!!!!

Mentiras de guerra

Destaque na Flip deste ano, mais recente livro de Robert Fisk está disponível para público brasileiro.

No início de julho, Paraty foi o cenário de dezenas de encontros literários na Flip (Festa Literária de Paraty). Um dos escritores que causaram mais entusiamo no público foi Robert Fisk, correspondente no Oriente Médio do jornal britânico The Independent. Ele vive no Oriente Médio há quase três décadas e tem mais prêmios de jornalismo que qualquer outro correspondente internacional. Robert Fisk entrevistou Osama Bin Laden três vezes e passou os últimos 30 anos se embrenhando nos campos de batalha do Oriente Médio - 15 deles dedicados à escrita do livro A Grande Guerra pela Civilização. A obra desvenda as mentiras que mandaram soldados para a morte e mataram milhares de homens e mulheres ao longo do século passado. No entanto, ao mesmo tempo, é uma crônica dos jornalistas de guerra, relatando a frustação dos correspondentes que gastam suas vidas reportando em primeira mão a história. Afinal onde a guerra nos leva? À civilização?

"Eu costumava afirmar, com certeza em vão, que todo repórter deve levar um livro de Histórias no bolso. Em 1992, estive em Saravejo e me encontrei, enquanto os abuses sérvios zuniam sobre minha cabeça, sobre a mesma lajota da qual Gavrilo Princip fez o dispara fatal que mandaria meu pai às trincheiras da Primeira Guerra Mundial. E, evidentemente, continuavam soando disparos em Saravejo em 1992. Era como se a História fosse uma gigantesca câmera de eco. Esse ano foi o ano em que meu pai morreu. Essa é, portanto, a história de suaa geração. E da minha", declara Fisk no prólogo a A Grande Guerra pela Civilização.

Obra-prima da aventura e da tragédia, amenizada por observações cheias de humor e compaixão, o livro passa de uma cronologia da história do Oriente Médio para relatar a história do mundo violento que molda as nossas vias e nosso futuro. "A intensidade é ao mesmo tempo a grande força e uma das principais fraquezas do livro. Após lê-lo, ninguém pode se esconder dos imensos custos humanos das decisões feitas por generais e políticos, sejam eles do Oriente Médio ou não", destaca o jornalista Stephen Hump, no jornal The Washington Post.

Serviço:
A Grande Guerra pela Civilização, de Robert Fisk.
Editora Planeta, 1496 páginas
R$ 96,00 a 120,00

Jornalismo gonzo

Chega ao Brasil Medo e Delírio em Las Vegas, obra-prima alucinógena do jornalista norte-americano Hunter Thompson.

* com informações de Melissa Medroni

No mês de agosto chega às livrarias de todo o país um dos classicos do New Journalism, gênero literário que mescla ficção e realidade, geralmente narrado em primeira pessoa e recheada de impressões pessoais que teve como expoentes Tom Wolfe (A Fogueira das Vaidades) e Truman Capote (Bonequinha de Luxo e A Sangue Frio). Trata-se de Medo e Delírio em LasVegas, obra-prima do jornalista e escritor Hunter Thompson, que ganha edição especial no Brasil, com ilustrações psicodélicas de Raph Steadman.

O livro narra a viagem regada a drogas de um jornalista norte-americano - o próprio Thompson, sob o pseudônimo de Raoul Duke - e seu advogado pelo deserto de Nevada. "Estávamos em um lugar perto de Barstow, à beira do deserto, quando as drogas começaram a fazer efeito. Lembro que falei algo como 'estou meio tonto; acho melhor você dirigir...' E de repente fomos cercados por um rugido terrível, e o céu se encheu de algo que pareciam morcegos imensos, descendo, guinchando e mergulhando ao redor do carro, que avançava até Las vegas a uns 160 por hora com a capota baixada", conta o narrador no primeiro parágrafo do livro que foi adaptado para o cinema em 1998, com Johnny Deep no papel de Raoul e um irreconhecível Benício Del Toro na pele de seu advogado.

Ao inserir viagens alucinógenas em relatos de fatos reais e usar o sarcasmo e a vulgaridade como forma de humor, o colaborador da revista Rolling Stone criou um gênero que ultrapassou as barreiras do New Journalism e foi batizado de Gonzo Journalism. Partia do princípio de William Faulkner de que "a melhor ficção é muitas vezes mais verdadeira que qualquer tipo de jornalismo". Não economizava palavras para descrever não só o que via, mas também o que passava pela mente possuída pelas drogas e as situações que protagonizava ou inventava, em decorrência do seu estado alterado, durante as coberturas jornalísticas. Thompson suicidou-se com um tiro na cabeça em fevereiro de 2005, aos 67 anos.

Para saber mais sobre Hunter Thompson e o Gonzo Journalism acesse: www.qualquer.org/gonzo

Serviço

Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter Thompson.
Editora Conrad. 216 páginas.
R$ de 35 a 45


* responsável pela editoria de Diversão e Arte da revista Top View.



Duro de Matar 4.0

No fim de semana me dei o direito de assistir uma grande produção holliwoodiana: Duro de Matar 4.0. Vou tentar descrever minhas impressões sobre o filme.

By Luma Savi

A noite é comum e o policial local John McLane está em uma tarefa muito difícil: vigiar a sua filha adolescente Lucy McLane (Mary Elizabeth Winstead). O FBI atrapalha o seu árduo trabalho e pede que vá em busca do hacker Matt (Justin Long), mas engana-se quem pensa que este é o trabalho fácil, pois é aí que começa a ação e a aventura.

McLane desconhece o moti
vo de tal solicitação e até considera um trabalho ridículo para ser realizado às 3hs da manhã. Mal sabe ele que Matt está na mira de perigosos e que deve ser o próximo a morrer. Motivo? ele é um dos oito hackers que criaram um poderoso código virtual.

Quando chega ao 'badernado' apartamento de Matt logo é recepcionado por uma saraivada de balas, dos mafiosos que estão do lado de fora e que tem a missão de '
deletar' Matt. Detalhe: todos os outros sete hacker foram mortos ao apertar o botão 'delete' de seus computadores e Matt apenas não aperta porque McLane bate em sua porta no exato momento em que ia fazer isso (Pura sorte!!!). Matt até acredita que o caçado é o policial e não ele. É tiro e bombas para tudo quanto é lado!!! (Sobrevivem graças a uma geladeira...)

Após sairem do apto de Matt começa uma sequência de imagens mirabolantes e cheias de efeitos especiais, como McLane conseguir derrubar um helicóptero com um carro e os dois escaparem um milhão de vezes de ser morto pelos mafiosos!!!! Ao chegar no FBI, para onde devria levar o hacker, McLane descobre que a rede informatizada foi invadida e toda a segurança nacional está em risco. Como o policial é 'analfabeto' sobre informática e sistemas precisa que seu novo colega lhe explique o que está acontecendo.


Ao longo da história os agentes do FBI e McLane descobrem que o invasor é um ex-funcionário da corporação que falou aos seus superiores que a rede informatizada era vulnerável a hackers, e que por isso foi demitido e teve a sua reputação arruinada. Thomas Gabriel (vivido por Timothy Olyphant, de Pegar e Largar), o vilão sem carisma da história, e sua equipe invadem o sistema de controle de trânsito, o controle de energia, as bolsas de valores e até o satélite dos EUA, ameaçando causar um enorme blecaute, tudo apenas através de computadores e com a finalidade de roubar todo o dinheiro possível de contas e fundos monetários. McLane dá a sua cara para bater e diz que vai acabar com os planos do vilão. Ele mata a namoradinha comparsa de Thomas,
Mai Linh (Maggie Q), o que faz o malvado explodir de raiva e sequestrar Lucy. Se McLane já estava de querendo a cabeça de Thomas, após sequestrar a sua filha a situação ficou muito pior.

No final, como todos podem imaginar, McLane vence sozinho a um batalhão de 'malfeitões' (apenas com alguns arranhões no rosto e um tiro no ombro. Ressalva: ele atira no ombro e a bala mata Thomas!!), salva os Estados Unidos e fica de bem com a filha, com quem tem um relacionamento bem tumultuado. Fica ainda a deixa no ar de um possível romance entre Lucy e Matt.

Doze anos depois do lançamento da terceira parte da série Duro de Matar (Duro de Matar: A Vingança é de 1995), o espectador vê o durão McLane em boa forma e com a mesma evolução dos filmes anteriores. É um filme que esbanja testosterona e que em plena moda de super-heróis sensíveis e com crises existenciais, traz um que resolve os seus problemas na base da porrada.

É uma mega produção de tirar o fôlego do espectador do início ao fim da trama. Tem um áudio muito bacana e ótima fotografia. Dica: quando for assitir ao filme deixe de lado a realidade, pois não é isso que o filme quer mostrar e algumas cenas provam exatamente isso, com evoluções que são possíveis somente no mundo virtual.

Curiosidades

- Jessica Simpson fez um teste para interpretar a filha de John McClane, mas foi reprovada.

- Justin Timberlake esteve cotado para interpretar o filho de John McClane.

- Larry Rippenkroeger, dublê de Bruce Willis, machucou-se seriamente ao realizar uma cena em que caía de uma altura de 7 metros ao chão. Ele quebrou alguns ossos da face e ainda fraturou os dois pulsos. Este acidente fez com que as filmagens fossem interrompidas temporariamente.

- Durante sua recuperação, Larry Rippenkroeger recebeu a visita de Bruce Willis diversas vezes. Além disto Willis custeou o hotel dos parentes de Larry, para que pudessem acompanhá-lo no hospital.

- As filmagens ocorreram entre 23 de setembro de 2006 e 14 de fevereiro de 2007.

O que muda com a reforma da língua portuguesa

da Folha de S.Paulo


As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008. Mudanças incluem fim do trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro. Veja abaixo quais são as mudanças.

HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso" , "antissemita" , "contrarregra" , "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado" , "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar" , "aeroespacial" , "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA No português lusitano: 1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo" 2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"

Crônicas de uma tragédia

Bobby conta histórias de personagens fictícios envolvidos no episódio do assassinato do candidato à presidencia norte-americana Robert F. Kennedy

* Com informações de Melissa Medroni

Neste mês de agosto uma das atrações nos cinemas será o filme Bobby. Com um elenco estelar - Anthony Hopkins, Sharon Stone, Demi Moore, Christian Slater, Helen Hunt e outros nomes consagrados de Hollywood -, conta a história de 22 personagens fictícios no Anbassador Hotel na noite em que o candidato a presidente, o senador Robert Kennedy, foi baleado. Para você que faltou nesta aula de história, vamos aos fatos. Robert Kennedy, conhecido como Bobby, era um dos oito irmãos do presidente eleito em 1960, John F. Kennedy. Bobby gerenciava a carreira do irmão e foi nomeado procurador geral quando John ganhous as eleições presidenciais. Juntos impuseram medidas contra o racismo e cercaram a Casa Branca com pessoas com um alto nível intelectual. Até que John foi assassinado em um desfile na cidade de Dallas, durante a campanha para a reeleição.

O episódio impulsionou o jovem Bobby a assumir o papel de porta-voz dos oprimidos, anunciando em 1968 a sua candidatura ao posto que já tinha sido ocupado pelo irmão. Mas Bobby não passou Incólume à nuvem negra qua assolou o mundo naquele ano - em 1968 a Guerra do Vietnã, à qual ele se declarava contrário, atingiu proporções gigantescas e Martim Luther King Jr. foi assassinado. Neste clima de horror e tragédia, Bobby encontrou o mesmo destino que o irmão: não a presidência dos Estados Unidos, mas a morte.

Foi o fim do idealismo da geração que ouvia Beatles e acreditava na erradicação da pobreza, do racismo e da epidemia de violência. "A partir do dia 5 de junho de 1968 nos tornamos mais cínicos e resignados e acredito que isso explica nossa posição cuktural hoje", diz Emílio Estevez, roteirista e diretor que quis celebrar o espírito de Robert Kennedy no filme Bobby.

Mesclando ficção e realidade, a narrativa começa horas antes do crime que tirou a vida do segundo membro da família Kennedy. O filme dá uma abordagem romanesca à morte de Bobby. Da união de fatos reais com a imaginação de Estevez surgem personagens comuns que teriam tido suas vidas radicalmente mudadas a partir do episódio, como o porteiro aposentado do hotel (Anthony Hopkins), o gerente (William H. MAcy) casado com a cabeleireira do local (Sharon Stone), os cozinheiros (Christian Slater e Laurence Fishburne) e uma cantora alcoólatra (Demi Moore).

* Melissa Medroni é colunista da Revista Top View, Diversão e Arte, e escreveu seu comentário sobre o filme na edição 82.

Saudades


"Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de
todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos
sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de
finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo
vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum
desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos
encontrar quem sabe...... nos e-mails trocados. Podemos nos
telefonar conversar algumas bobagens.... Aí os dias vão passar,
meses...anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo....Um dia nossos filhos verão aquelas
fotografias e perguntarão? Quem são aquelas pessoas?
Diremos...Que eram nossos amigos. E...... isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha
vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um
ultimo adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em
diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver
a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo....Por isso, fica aqui um pedido deste
humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que
pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades....Eu
poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa
"Apesar de ninguém poder voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".

As três cores da paixão






Lucimara Savi


Enquanto muitos para encontrá-lo procuram nas listas de profissionais da saúde, outros apenas clicam em um botão no horário de almoço, para mais uma vez o ver defender as cores de uma grande paixão. O convicto apaixonado desta reportagem se chama Sérgio Roberto Bello, 32 anos, mas para muitos apenas ‘Sérgio-Paranista’ ou ‘Serjão’.

Durante muito tempo um uniforme branco fez ficar no guarda-roupa as cores da alegria, vibração e lágrimas: vermelho, azul e branco, mas apenas não estavam no corpo, porque continuavam na mente e no coração. Para muita gente é apenas um fisioterapeuta que vem para ajudar a amenizar as suas dores e problemas físicos, mas para outros, é aquele que vem trazer alegria nas vitórias, injeção de ânimo nas derrotas e brigar por uma causa comum.

“Sou maluco por futebol, desde que nasci”, ele se auto descreve. Sérgio afirma que desde muito pequeno o futebol atraía a sua atenção e que isso surgiu espontaneamente, “meu pai gostava de futebol, mas não era fanático como eu”. De sua infância tem muitas recordações e conta: “sempre gostei de futebol de todos os jeitos e por isso tinha coleção de times de botão. Um dia, quando tinha entre 8 e 9 anos, estava brincando com um colega na cozinha da minha casa e coloquei um monte de fósforo em volta do campo, quando o meu time foi entrar para jogar acendi um deles e todos os outros foram acendendo gradativamente, quase coloquei fogo na minha casa. Minha mãe ficou maluca, levei uma baita surra”, conta ele entre risos.

Apesar de toda a sua paixão pelo esporte não quis fazer carreira como jogador. O motivo? “o meu porte físico não me permitiu”, diz ele que em 1997 se formou em fisioterapia pela Universidade Tuiuti da Paraná. Ao longo dos anos construiu a sua vida profissional e pessoal. Casou-se e recentemente teve a felicidade de ser pai, mas faz uma declaração, “não sei do que gosto mais, mas acho que na escala ficaria a Rita,minha esposa, o Ricardo, meu filho e o Paraná, mas não tenho certeza se não é o inverso”.Quando perguntado sobre a possibilidade de o seu filho não ser paranista ele afirma que “ele não tem escolha, ou é paranista ou é paranista. Não consigo sequer pensar na possibilidade de ele escolher outro time”.

Sergio continua estudando, está no 5º período de jornalismo na UniBrasil e afirma que os seus sonhos estão se realizando e que apesar de ser um futuro jornalista tem certeza que ficará para sempre carimbado como paranista. Ele diz que começou a fazer o curso pelo Paraná Futebol Clube, pois o Coritiba e o Atlético têm muitos representantes na mídia, enquanto o seu time estava mal representado. Apesar estar diariamente no segundo maior canal de televisão do estado, o Grupo Paulo Pimentel, o que mais lhe trouxe satisfação foi ser convidado para escrever uma coluna sobre o time no jornal Tribuna do Paraná. Ele afirma que “muitas pessoas falam que o jornal é sangrento, mas é o que tem o melhor caderno de esportes do estado”.

Ele comenta que é bom ser reconhecido por sua atuação, “quando chego nos estádios sou rodeado por quem me assiste, todos querem fotos e autógrafos. Já teve até casos de crianças chorarem ao me ver, lógico, fico emocionado com isso”, mas reconhece que tem os seus prós e contras. Recentemente teve que bloquear a sua conta em um site de relacionamentos, pois começaram a colocar mensagens que denegriam sua imagem perante a sua família, “já escreveram várias vezes dizendo que iam me matar, mas nunca liguei para isso, o problema foi quando começaram a dizer coisas que eu tinha certeza que não tinha feito”. Ele diz que por este motivo pode até estar atrás de outros torcedores fanáticos que, assim como ele, estão na mídia falando do mesmo time, mas que prefere se preservar, “se já é difícil ouvir quando a gente deve, imagine quando a gente é inocente”.

Com relação aos paranaenses não gostarem de campeonatos locais, ele diz que “é da cultura do povo, o pessoal de Curitiba torce pelos times daqui, mas do interior prefere e torcer pelos paulistas. Me lembro de um jogo que teve em Maringá entre o Paraná e um time de São Paulo, onde 99% dos torcedores de lá torciam contra o time do seu estado” e afirma que os seus conterrâneos apenas passarão a gostar de campeonatos locais quando os times da capital alcançarem sucesso igual ou superior ao dos paulistas e cariocas. O que ele aponta com pesar é que hoje os jogadores já não jogam por amor a camisa, mas sim ao dinheiro, “eles vão e ficam onde pagam mais”. Um caso recente e que ele cita é do jogador Leonardo, que até pouco tempo vestia a camisa tricolor e que foi vendido ao Flamengo e que em sua primeira entrevista coletiva disse que estava subindo na vida, Sérgio diz que vê o caso como uma traição aos torcedores do Paraná e o clube em si, que se dedicou ao atleta, “ele pode até ter recebido uma boa proposta, mas todos sabem que o time para o qual ele foi é conhecido por ser mal pagador, enquanto aqui ele sempre recebeu em dia”, diz ele com tristeza.

A nova geração de meninos e meninas não tem mais o mesmo amor e dedicação ao esporte quanto no seu tempo, “quando eu era pequeno colocávamos dois tijolos de trave e jogávamos futebol na calçada e no campinho de terra, hoje o computador substitui esta atividade. Sei que dá para jogar futebol online, mas acho que não é a mesma coisa”, analisa.

Ele se diz um crítico em relação a sua atuação no Tribuna no Esporte, “a minha esposa as vezes grava o programa e vejo que tenho melhorado, mas tenho muito o que aperfeiçoar”, diz ele que faz fonoaudiologia duas vezes por semana para melhorar a sua dicção. Seus planos para o futuro é se formar em comunicação social e ser contratado para o jornalismo esportivo impresso do veículo em que já atua. “Alguns dias atrás escrevi minha coluna no jornal. Fui ao jogo do Paraná e depois da partida fui cumprimentar os jogadores, quando lá cheguei o Caio Junior, técnico do time, disse que a leu e que ficou muito emocionado com o que eu tinha escrito. Ele disse que se o texto não fosse tão grande, teria lido aos jogares na concentração antes do jogo, nem preciso dizer que fiquei muito feliz, afinal ele comanda o time que amo”, disse orgulhoso.

Quando interrogado sobre a sua reação durante as partidas diz que não tem vergonha de dizer que chora, “sou um torcedor que sofre quando o meu time está perdendo e que fica feliz quando ele está ganhando”. Para finalizar ele contou que em sua lápide estará escrito “Um homem que viveu por amor a Rita, Ricardo e Paraná Clube”, mas quem sabe possa ser em outra ordem.

“Paraná és guerreiro valente
E do esporte a maior razão
Verdadeira alegria do povo
Paraná Clube do coração”.
(Trecho do Hino do Paraná Clube)

Projeto de incentivo a leitura, Sempre um Papo, traz Fernando Morais à Curitiba

O escritor Fernando Morais visita Curitiba para o lançamento de “Montenegro: as Aventuras do Marechal que Fez uma Revolução nos Céus”




“Faz tempo que eu não venho à Curitiba para coisa séria. Pelo menos dez anos.” Foi assim que deu-se início à conversa descontraída com o escritor Fernando Morais na noite de quarta-feira, 29/11, no Teatro da Caixa Cultural. O escritor veio à convite do projeto “Sempre um Papo” de incentivo ao hábito da leitura, que proporciona a oportunidade de colocar o leitor cara a cara com seu escritor favorito, sem precisar pagar ingresso.

Fernando Morais veio à cidade para falar do seu mais recente livro “Montenegro: as Aventuras do Marechal que Fez uma Revolução nos Céus”, que é a biografia do marechal Casemiro Montenegro, piloto do primeiro vôo do Correio Aéreo Nacional, herói da aviação nos anos 30, preso em 1932, e inspirado no MIT [Massachussets Institute Of Technology], instituto tradicional de educação em áreas como ciência e tecnologia da cidade de Boston, nos Estados Unidos, viria a se tornar o criador do ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

O escritor descobriu a história de Casemiro há seis anos, na época em que estava escrevendo o livro “Corações Sujos”. Fernando Morais estava fora do país, quando recebeu por email a sugestão de um amigo de São Paulo para que fizesse a biografia de Casemiro Montenegro. Numa outra ocasião teve contato num elevador com a neta de seis anos de Casemiro que disse à ele que a avó ficaria muito feliz se ele escrevesse um livro sobre a história do avô. Morais resolveu pesquisar a história e se apaixonou. “O Montenegro é um Indiana Jones do nosso tempo” disse o escritor ao falar emocionado sobre o piloto. “Só tinha um jeito de descobrir o Brasil naquela época que era de avião. Desbravaram o Brasil a pretexto de levar correspondência. A justificativa era essa. Hoje sabe-se mais de Júpiter, de Marte e da Lua do que do centro-oeste da Amazônia”, completou Morais.




Sobre Casemiro Montenegro, Fernando Morais contou algumas curiosidades bem humoradas. O marechal Montenegro inspirou-se no MIT [Massachussets Institute Of Technology] para montar algo parecido no Brasil, que viria a ser o ITA, e exigiu que o arquiteto Oscar Niemeyer tocasse o projeto. O presidente Dutra [que governou entre 1946 e 1951] não aceitou, disse que no Brasil nenhum comunista faria uma obra desse tipo. Casemiro deu a idéia à Oscar Niemeyer para que ele arranjasse um amigo para assinar a planta, e assim tocaram a obra. “O presidente Dutra morreu sem saber que a fachada do ITA recendia à Marxismo e Leninismo”, riu Morais. Desse episódio existe inclusive uma foto onde o Presidente Dutra está posando em frente à fachada do ITA, sem imaginar que o prédio era projeto de Oscar Niemeyer.


Início de carreira

Fernando Morais nasceu em Mariana, Minas Gerais. Sua carreira começou a partir de um grave incidente religioso familiar. Mariana é uma cidade que tem dezenas de igrejas, e onde fica a sede da Cúria, e da Mitra Diocesana [órgãos da mais alta importância dentro da Igreja Católica], mas seu pai, um bancário funcionário do Banco da Lavoura de Minas Gerais [atual Banco Real] era ateu. Sustentava com enorme dificuldade nove filhos, mas mesmo assim conseguiu montar uma biblioteca com três mil volumes, e fez com que os filhos crescessem cercados por livros. “Na cidade só havia duas escolas de ensino médio, sendo que uma formava freiras e a outra era um seminário que formava padres”, ele conta. O pai de Fernando Morais então resolveu procurar uma escola para os filhos em Belo Horizonte.

Dom Oscar de Oliveira, o primeiro bispo negro do Brasil ficou sabendo que o pai de Fernando Morais havia matriculado seus dois filhos mais velhos numa escola protestante em Belo Horizonte. O bispo ficou possesso e não pode admitir que o homem que administrava o dinheiro da Cúria e da Mitra Diocesana fosse matricular os filhos num colégio protestante. Ele foi até a casa de Fernando Morais para brigar com o pai do menino que um dia viria a ser escritor. O pai não admitiu tamanho desaforo, até que ele e o bispo Dom Oscar de Oliveira saíram no braço, e acabaram se agredindo. O pai de Fernando Morais foi excomungado pela Igreja Católica. Mais adiante na história, quando Dom Paulo Evaristo Arns ficou sabendo que o pai de Fernando Morais estava vivo, porém já com a idade avançada, tentou reverter a situação, mas não conseguiu nenhum resultado.

Depois desse episódio da briga com o bispo, o pai de Fernando Morais foi transferido e a família mudou-se da cidade de Mariana para Belo Horizonte. “Foi por causa dessa briga do meu pai com o Bispo que eu fui parar no jornalismo, que eu virei escritor, e que estou aqui hoje, contando essa história para vocês. Eu poderia estar até hoje em Mariana sendo bancário”, brincou Morais.

Aos 13 anos o garotinho Fernando foi trabalhar como office-boy na redação da revista do banco onde o pai trabalhava. Ele reprovou um ano na escola, e o pai teve que matriculá-lo em uma escola particular. Mas com a condição de que ele teria que trabalhar para ajudar em casa, já que havia reprovado. Apesar disso, Fernando era um excelente aluno em Português, História e Geografia. Certa vez, o repórter Antônio Walter Nascimento faltou bem no dia em que iria entrevistar a Miss Banco da Lavoura. “Antônio Walter Nascimento é um desses nomes que a gente não esquece. Hoje em dia ele é psicoterapeuta”, enfatiza. Perguntaram para Fernando se ele gostaria de substituí-lo na entrevista. Como ele era garoto, na época era um sonho poder entrevistar a Miss Banco da Lavoura. Ele recebeu um aumento e a oportunidade de virar repórter aos 13 anos de idade. “Dormi office-boy e acordei repórter!”, finaliza.


A escolha dos personagens de suas biografias e a relação com o cinema


Fernando foi questionado sobre os critérios que o levaram a escolher a história de uma pessoa e transformar em biografia. Entre os biografados pelo escritor estão Olga Benário Prestes em “Olga”, Assis Chateubriand em “Chatô, O Rei do Brasil”, e “Na Toca dos Leões”, biografia da agência de publicidade W/Brasil, ele conta, “Eu tenho que pressupor que o leitor é tão ignorante como eu sou antes de conhecer a história desse personagem, e eu tenho que surpreendê-lo e emocioná-lo com a história”.

Desde 1996 Fernando está preparando a biografia do senador Antônio Carlos Magalhães. ACM chegou a dizer em entrevista para Marília Gabriela que o escritor está esperando que ele morra para então publicar a biografia. No “Sempre um Papo” que ocorreu em Brasília, ACM foi visto por uma pessoa da platéia logo que chegou, e oportunamente a pergunta dirigida a Fernando Morais foi sobre quando sairia a biografia de ACM. ACM voltou a repetir a brincadeira de que Fernando estava esperando o senador morrer para lançar a obra. Mas Fernando explicou que não lançará a biografia enquanto ACM estiver ativo. Se tivesse lançado a biografia a alguns anos, não teria incluído a morte prematura do filho de ACM, o deputado federal Luís Eduardo Magalhães em 1998, vítima de um ataque cardíaco, nem a denúncia de manipulação do painel eletrônico em 2000, e o fim da era de 16 anos sob o comando de ACM, com a vitória de Jaques Wagner, candidato do PT ao governo da Bahia em 2006.

Atualmente, Fernando Morais está preparando a biografia do escritor Paulo Coelho desde o nascimento até os seus 60 anos de idade: “Essa vai ser uma obra datada, se alguém depois quiser pegar dos 60 anos do Paulo Coelho até os 120 e fazer outra biografia, por mim tudo bem” disse bem-humorado o escritor.

Para Fernando Morais, os personagens mais importantes da história do Brasil são aqueles do fim da República Velha até o golpe de 64, e do fim da ditadura. “Esse é o Brasil mais saboroso que dá filme e que dá livro”. Segundo o escritor os livros-reportagens são aqueles que mais contém informação sobre a história recente do Brasil. “São histórias reais e brasileiras. Os livros jornalísticos, os livros de não-ficção, são interessantes fornecedores de argumento de histórias para o cinema nacional. E os cineastas estão procurando por elas. Já está tudo mastigadinho para o cinema”.

Seu livro “Olga” virou filme em 2004 pelas mãos do cineasta Jayme Monjardim. As filmagens de Chatô iniciaram-se em 1995, quando os direitos de filmagem foram adquiridos pelo ator Guilherme Fontes, mas logo foram interrompidas, por falta de recursos financeiros, além da desconfiança do governo sobre possíveis desvios de verba, mas Guilherme foi inocentado pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Desde então o ator protagoniza uma novela à parte para a finalização do filme que supostamente teve suas filmagens encerradas em 2002. “Chatô vai sair” disse Fernando Morais sob risos da platéia.

Morais não chegou a participar da produção dos filmes baseados em seus livros, mas leu os tratamentos do roteiro para que não houvesse nenhum deslize histórico. Também fez workshops para que os atores pudessem se inteirar sobre que foi o Brasil na época da ditadura. Para escrever “Olga” o escritor foi até a Alemanha para conversar com os amigos da juventude de Olga Benário, já bem velhinhos, porém muito prestativos. Quando escreveu Chatô, ele ganhou uma bolsa de pesquisas da Unicamp que lhe deu direito à dois pesquisadores para ajudar na tarefa de levantar dados e informações sobre a vida de Assis Chateubriand. Em troca, ele fazia palestras para os alunos de jornalismo contando à quantas andava o seu livro.

“Na Toca dos Leões”, livro que segundo sua própria definição “era pra ser bem light, e virou um triller de horror”, é a biografia da agência W/Brasil. O livro estava sendo escrito quando o publicitário Washington Olivetto foi seqüestrado, e permaneceu como refém durante 53 dias num cubículo de três metros por um, em 2001.


Os problemas enfrentados durante a carreira: Censura e processo



Depois que voltou de Cuba com o livro “A Ilha – Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro” pronto para ser publicado, Fernando Morais teve que esperar até a poeira baixar. “Era um período muito barra-pesada”. Ele trouxe na bagagem vários slides de Cuba, mas como o livro não podia ser publicado, nem as fotos poderiam ser mostradas em público por conta das repreensões que poderia sofrer, ele fez uma apresentação dos slides na casa do jornalista Vladimir Herzog para sua esposa Clarice e os dois filhos.

O escritor está sendo processado há um ano e meio pelo deputado federal Ronaldo Caiado, por causa de um episódio narrado no livro “Na Toca dos Leões”, a biografia de uma das mais importantes agências de publicidade do país, a W/Brasil.

O trecho do livro se referia ao período em que Ronaldo Caiado foi candidato à Presidência da República em 1989, e queria a W/Brasil para produzir os anúncios de sua candidatura. Segundo o publicitário e sócio-fundador da empresa, Gabriel Zellmeister, Ronaldo Caiado contou que tinha um plano de acabar com a miséria do Brasil, que constava em adicionar um produto químico no tratamento de água que esterilizaria as mulheres do nordeste. Gabriel Zellmeister em entrevista a Fernando Morais contou esse episódio que foi publicado no livro. Ronaldo Caiado abriu processo contra Fernando Morais, Washington Olivetto e a Editora Planeta.

Por determinação do juiz da 7ª Vara Cível de Goiânia, Jeová Sardinha de Moraes, Fernando Morais não poderia se referir ao próprio livro e nem no assunto em público. Qualquer manifestação lhe custaria cinco mil reais de multa. O livro ficou quatro meses fora de circulação em mercado. O recolhimento de “Na Toca dos Leões” de todas as livrarias em território nacional causou grande repercussão e revolta no meio jornalístico. Ao final, a decisão que era favorável ao deputado Ronaldo Caiado, foi anulada pelo Tribunal de Justiça de Goiás. Segundo Fernando Morais foi a primeira vez em que ele viu a A Fenaj e o Sindicato dos Patrões se unirem, para demonstrar sua repulsa ao ocorrido. Fernando Morais disse que a decisão atentava contra “o direito da sociedade de ser informada das coisas”.


Situação do mercado literário no Brasil e a Educação



O escritor foi questionado por alguns participantes do bate-papo sobre sua opinião à respeito do mercado literário no Brasil e sobre a alta porcentagem de crianças que não conseguem interpretar textos no ensino fundamental. “Enquanto não resolver a educação, sempre haverá patamares de leitura baixos”, afirmou. E foi adiante: “Não adianta investir em ensino superior se não resolver lá embaixo, no primário. Esse país não muda a cara que tem se não mudar a educação”, concluiu.

Sobre o mercado literário ele tem uma perspectiva otimista “É um bom sintoma o interesse das editoras européias pela produção brasileira”. O escritor experimentou o sucesso do livro “Olga” também fora do Brasil. A obra já foi publicada em 21 países.


Os planos para o futuro

Alguma personalidades encantam Fernando Morais e para elas ele já tem planos futuros de possíveis biografias. O primeiro nome citado durante o bate-papo foi o do escritor Guimarães Rosa. Ele disse que já tem algumas idéias em relação à Rosa.

Mais adiante afirmou que através das suas biografias, ele está “cercando” Getúlio Vargas. “Não existe uma grande biografia dele”. Logo a seguir contou sobre uma viagem que fez com a família aos Estados Unidos, em que levou a filha numa livraria para ver se tinha “Olga” [sabendo que teria]. Perguntou à vendedora onde ficava a prateleira de biografias, que lhe respondeu que o “andar” das biografias era o terceiro. Ao chegar ao andar indicado ele notou que haviam 19 biografias de autores diferentes da ex-primeira dama americana Jaqueline Kennedy. E uma biografia definitiva de Getúlio Vargas está faltando.

Fernando contou também do proposta irrecusável feita por Carlos Lacerda Neto, para que ele escrevesse em um único livro a biografia de Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, os dois maiores antagonistas da história da política brasileira. Mas por não chegarem à uma decisão por qual editora optar [Neto queria que a biografia saísse pela Editora Nova Fronteira pertencente à sua família, e Morais não queria deixar a Companhia das Letras], o projeto por enquanto permanece no papel para o futuro, que tomara, não esteja muito distante, para o enriquecimento da literatura brasileira, dom este que parece ser tão natural em Fernando Morais. “Cria-se naturezas ao longo da vida. Não estou com 60 anos à toa, criei minha própria natureza”, conclui.


****
Essa matéria deveria ter sido publicada no Palavra Digital na última edição do ano [Novembro/2006], mas devido à demanda de atividades que designaram à nossa professora daquele período, a matéria nunca foi lançada on-line.

Projeto de incentivo à leitura "Sempre um Papo" traz Fernando Morais à Curitiba

O escritor Fernando Morais visita Curitiba para o lançamento de “Montenegro: as Aventuras do Marechal que Fez uma Revolução nos Céus”

Por: Daniele Vieira Carneiro
Fotos: Lucimara de Souza




“Faz tempo que eu não venho à Curitiba para coisa séria. Pelo menos dez anos.” Foi assim que deu-se início à conversa descontraída com o escritor Fernando Morais na noite de quarta-feira, 29/11, no Teatro da Caixa Cultural. O escritor veio à convite do projeto “Sempre um Papo” de incentivo ao hábito da leitura, que proporciona a oportunidade de colocar o leitor cara a cara com seu escritor favorito, sem precisar pagar ingresso.

Fernando Morais veio à cidade para falar do seu mais recente livro “Montenegro: as Aventuras do Marechal que Fez uma Revolução nos Céus”, que é a biografia do marechal Casemiro Montenegro, piloto do primeiro vôo do Correio Aéreo Nacional, herói da aviação nos anos 30, preso em 1932, e inspirado no MIT [Massachussets Institute Of Technology], instituto tradicional de educação em áreas como ciência e tecnologia da cidade de Boston, nos Estados Unidos, viria a se tornar o criador do ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

O escritor descobriu a história de Casemiro há seis anos, na época em que estava escrevendo o livro “Corações Sujos”. Fernando Morais estava fora do país, quando recebeu por email a sugestão de um amigo de São Paulo para que fizesse a biografia de Casemiro Montenegro. Numa outra ocasião teve contato num elevador com a neta de seis anos de Casemiro que disse à ele que a avó ficaria muito feliz se ele escrevesse um livro sobre a história do avô. Morais resolveu pesquisar a história e se apaixonou. “O Montenegro é um Indiana Jones do nosso tempo” disse o escritor ao falar emocionado sobre o piloto. “Só tinha um jeito de descobrir o Brasil naquela época que era de avião. Desbravaram o Brasil a pretexto de levar correspondência. A justificativa era essa. Hoje sabe-se mais de Júpiter, de Marte e da Lua do que do centro-oeste da Amazônia”, completou Morais.




Sobre Casemiro Montenegro, Fernando Morais contou algumas curiosidades bem humoradas. O marechal Montenegro inspirou-se no MIT [Massachussets Institute Of Technology] para montar algo parecido no Brasil, que viria a ser o ITA, e exigiu que o arquiteto Oscar Niemeyer tocasse o projeto. O presidente Dutra [que governou entre 1946 e 1951] não aceitou, disse que no Brasil nenhum comunista faria uma obra desse tipo. Casemiro deu a idéia à Oscar Niemeyer para que ele arranjasse um amigo para assinar a planta, e assim tocaram a obra. “O presidente Dutra morreu sem saber que a fachada do ITA recendia à Marxismo e Leninismo”, riu Morais. Desse episódio existe inclusive uma foto onde o Presidente Dutra está posando em frente à fachada do ITA, sem imaginar que o prédio era projeto de Oscar Niemeyer.


Início de carreira

Fernando Morais nasceu em Mariana, Minas Gerais. Sua carreira começou a partir de um grave incidente religioso familiar. Mariana é uma cidade que tem dezenas de igrejas, e onde fica a sede da Cúria, e da Mitra Diocesana [órgãos da mais alta importância dentro da Igreja Católica], mas seu pai, um bancário funcionário do Banco da Lavoura de Minas Gerais [atual Banco Real] era ateu. Sustentava com enorme dificuldade nove filhos, mas mesmo assim conseguiu montar uma biblioteca com três mil volumes, e fez com que os filhos crescessem cercados por livros. “Na cidade só havia duas escolas de ensino médio, sendo que uma formava freiras e a outra era um seminário que formava padres”, ele conta. O pai de Fernando Morais então resolveu procurar uma escola para os filhos em Belo Horizonte.

Dom Oscar de Oliveira, o primeiro bispo negro do Brasil ficou sabendo que o pai de Fernando Morais havia matriculado seus dois filhos mais velhos numa escola protestante em Belo Horizonte. O bispo ficou possesso e não pode admitir que o homem que administrava o dinheiro da Cúria e da Mitra Diocesana fosse matricular os filhos num colégio protestante. Ele foi até a casa de Fernando Morais para brigar com o pai do menino que um dia viria a ser escritor. O pai não admitiu tamanho desaforo, até que ele e o bispo Dom Oscar de Oliveira saíram no braço, e acabaram se agredindo. O pai de Fernando Morais foi excomungado pela Igreja Católica. Mais adiante na história, quando Dom Paulo Evaristo Arns ficou sabendo que o pai de Fernando Morais estava vivo, porém já com a idade avançada, tentou reverter a situação, mas não conseguiu nenhum resultado.

Depois desse episódio da briga com o bispo, o pai de Fernando Morais foi transferido e a família mudou-se da cidade de Mariana para Belo Horizonte. “Foi por causa dessa briga do meu pai com o Bispo que eu fui parar no jornalismo, que eu virei escritor, e que estou aqui hoje, contando essa história para vocês. Eu poderia estar até hoje em Mariana sendo bancário”, brincou Morais.

Aos 13 anos o garotinho Fernando foi trabalhar como office-boy na redação da revista do banco onde o pai trabalhava. Ele reprovou um ano na escola, e o pai teve que matriculá-lo em uma escola particular. Mas com a condição de que ele teria que trabalhar para ajudar em casa, já que havia reprovado. Apesar disso, Fernando era um excelente aluno em Português, História e Geografia. Certa vez, o repórter Antônio Walter Nascimento faltou bem no dia em que iria entrevistar a Miss Banco da Lavoura. “Antônio Walter Nascimento é um desses nomes que a gente não esquece. Hoje em dia ele é psicoterapeuta”, enfatiza. Perguntaram para Fernando se ele gostaria de substituí-lo na entrevista. Como ele era garoto, na época era um sonho poder entrevistar a Miss Banco da Lavoura. Ele recebeu um aumento e a oportunidade de virar repórter aos 13 anos de idade. “Dormi office-boy e acordei repórter!”, finaliza.


A escolha dos personagens de suas biografias e a relação com o cinema


Fernando foi questionado sobre os critérios que o levaram a escolher a história de uma pessoa e transformar em biografia. Entre os biografados pelo escritor estão Olga Benário Prestes em “Olga”, Assis Chateubriand em “Chatô, O Rei do Brasil”, e “Na Toca dos Leões”, biografia da agência de publicidade W/Brasil, ele conta, “Eu tenho que pressupor que o leitor é tão ignorante como eu sou antes de conhecer a história desse personagem, e eu tenho que surpreendê-lo e emocioná-lo com a história”.

Desde 1996 Fernando está preparando a biografia do senador Antônio Carlos Magalhães. ACM chegou a dizer em entrevista para Marília Gabriela que o escritor está esperando que ele morra para então publicar a biografia. No “Sempre um Papo” que ocorreu em Brasília, ACM foi visto por uma pessoa da platéia logo que chegou, e oportunamente a pergunta dirigida a Fernando Morais foi sobre quando sairia a biografia de ACM. ACM voltou a repetir a brincadeira de que Fernando estava esperando o senador morrer para lançar a obra. Mas Fernando explicou que não lançará a biografia enquanto ACM estiver ativo. Se tivesse lançado a biografia a alguns anos, não teria incluído a morte prematura do filho de ACM, o deputado federal Luís Eduardo Magalhães em 1998, vítima de um ataque cardíaco, nem a denúncia de manipulação do painel eletrônico em 2000, e o fim da era de 16 anos sob o comando de ACM, com a vitória de Jaques Wagner, candidato do PT ao governo da Bahia em 2006.

Atualmente, Fernando Morais está preparando a biografia do escritor Paulo Coelho desde o nascimento até os seus 60 anos de idade: “Essa vai ser uma obra datada, se alguém depois quiser pegar dos 60 anos do Paulo Coelho até os 120 e fazer outra biografia, por mim tudo bem” disse bem-humorado o escritor.

Para Fernando Morais, os personagens mais importantes da história do Brasil são aqueles do fim da República Velha até o golpe de 64, e do fim da ditadura. “Esse é o Brasil mais saboroso que dá filme e que dá livro”. Segundo o escritor os livros-reportagens são aqueles que mais contém informação sobre a história recente do Brasil. “São histórias reais e brasileiras. Os livros jornalísticos, os livros de não-ficção, são interessantes fornecedores de argumento de histórias para o cinema nacional. E os cineastas estão procurando por elas. Já está tudo mastigadinho para o cinema”.

Seu livro “Olga” virou filme em 2004 pelas mãos do cineasta Jayme Monjardim. As filmagens de Chatô iniciaram-se em 1995, quando os direitos de filmagem foram adquiridos pelo ator Guilherme Fontes, mas logo foram interrompidas, por falta de recursos financeiros, além da desconfiança do governo sobre possíveis desvios de verba, mas Guilherme foi inocentado pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Desde então o ator protagoniza uma novela à parte para a finalização do filme que supostamente teve suas filmagens encerradas em 2002. “Chatô vai sair” disse Fernando Morais sob risos da platéia.

Morais não chegou a participar da produção dos filmes baseados em seus livros, mas leu os tratamentos do roteiro para que não houvesse nenhum deslize histórico. Também fez workshops para que os atores pudessem se inteirar sobre que foi o Brasil na época da ditadura. Para escrever “Olga” o escritor foi até a Alemanha para conversar com os amigos da juventude de Olga Benário, já bem velhinhos, porém muito prestativos. Quando escreveu Chatô, ele ganhou uma bolsa de pesquisas da Unicamp que lhe deu direito à dois pesquisadores para ajudar na tarefa de levantar dados e informações sobre a vida de Assis Chateubriand. Em troca, ele fazia palestras para os alunos de jornalismo contando à quantas andava o seu livro.

“Na Toca dos Leões”, livro que segundo sua própria definição “era pra ser bem light, e virou um triller de horror”, é a biografia da agência W/Brasil. O livro estava sendo escrito quando o publicitário Washington Olivetto foi seqüestrado, e permaneceu como refém durante 53 dias num cubículo de três metros por um, em 2001.


Os problemas enfrentados durante a carreira: Censura e processo



Depois que voltou de Cuba com o livro “A Ilha – Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro” pronto para ser publicado, Fernando Morais teve que esperar até a poeira baixar. “Era um período muito barra-pesada”. Ele trouxe na bagagem vários slides de Cuba, mas como o livro não podia ser publicado, nem as fotos poderiam ser mostradas em público por conta das repreensões que poderia sofrer, ele fez uma apresentação dos slides na casa do jornalista Vladimir Herzog para sua esposa Clarice e os dois filhos.

O escritor está sendo processado há um ano e meio pelo deputado federal Ronaldo Caiado, por causa de um episódio narrado no livro “Na Toca dos Leões”, a biografia de uma das mais importantes agências de publicidade do país, a W/Brasil.

O trecho do livro se referia ao período em que Ronaldo Caiado foi candidato à Presidência da República em 1989, e queria a W/Brasil para produzir os anúncios de sua candidatura. Segundo o publicitário e sócio-fundador da empresa, Gabriel Zellmeister, Ronaldo Caiado contou que tinha um plano de acabar com a miséria do Brasil, que constava em adicionar um produto químico no tratamento de água que esterilizaria as mulheres do nordeste. Gabriel Zellmeister em entrevista a Fernando Morais contou esse episódio que foi publicado no livro. Ronaldo Caiado abriu processo contra Fernando Morais, Washington Olivetto e a Editora Planeta.

Por determinação do juiz da 7ª Vara Cível de Goiânia, Jeová Sardinha de Moraes, Fernando Morais não poderia se referir ao próprio livro e nem no assunto em público. Qualquer manifestação lhe custaria cinco mil reais de multa. O livro ficou quatro meses fora de circulação em mercado. O recolhimento de “Na Toca dos Leões” de todas as livrarias em território nacional causou grande repercussão e revolta no meio jornalístico. Ao final, a decisão que era favorável ao deputado Ronaldo Caiado, foi anulada pelo Tribunal de Justiça de Goiás. Segundo Fernando Morais foi a primeira vez em que ele viu a A Fenaj e o Sindicato dos Patrões se unirem, para demonstrar sua repulsa ao ocorrido. Fernando Morais disse que a decisão atentava contra “o direito da sociedade de ser informada das coisas”.


Situação do mercado literário no Brasil e a Educação



O escritor foi questionado por alguns participantes do bate-papo sobre sua opinião à respeito do mercado literário no Brasil e sobre a alta porcentagem de crianças que não conseguem interpretar textos no ensino fundamental. “Enquanto não resolver a educação, sempre haverá patamares de leitura baixos”, afirmou. E foi adiante: “Não adianta investir em ensino superior se não resolver lá embaixo, no primário. Esse país não muda a cara que tem se não mudar a educação”, concluiu.

Sobre o mercado literário ele tem uma perspectiva otimista “É um bom sintoma o interesse das editoras européias pela produção brasileira”. O escritor experimentou o sucesso do livro “Olga” também fora do Brasil. A obra já foi publicada em 21 países.


Os planos para o futuro

Alguma personalidades encantam Fernando Morais e para elas ele já tem planos futuros de possíveis biografias. O primeiro nome citado durante o bate-papo foi o do escritor Guimarães Rosa. Ele disse que já tem algumas idéias em relação à Rosa.

Mais adiante afirmou que através das suas biografias, ele está “cercando” Getúlio Vargas. “Não existe uma grande biografia dele”. Logo a seguir contou sobre uma viagem que fez com a família aos Estados Unidos, em que levou a filha numa livraria para ver se tinha “Olga” [sabendo que teria]. Perguntou à vendedora onde ficava a prateleira de biografias, que lhe respondeu que o “andar” das biografias era o terceiro. Ao chegar ao andar indicado ele notou que haviam 19 biografias de autores diferentes da ex-primeira dama americana Jaqueline Kennedy. E uma biografia definitiva de Getúlio Vargas está faltando.

Fernando contou também do proposta irrecusável feita por Carlos Lacerda Neto, para que ele escrevesse em um único livro a biografia de Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, os dois maiores antagonistas da história da política brasileira. Mas por não chegarem à uma decisão por qual editora optar [Neto queria que a biografia saísse pela Editora Nova Fronteira pertencente à sua família, e Morais não queria deixar a Companhia das Letras], o projeto por enquanto permanece no papel para o futuro, que tomara, não esteja muito distante, para o enriquecimento da literatura brasileira, dom este que parece ser tão natural em Fernando Morais. “Cria-se naturezas ao longo da vida. Não estou com 60 anos à toa, criei minha própria natureza”, conclui.


****
Essa matéria deveria ter sido publicada no Palavra Digital na última edição do ano [Novembro/2006], mas devido à demanda de atividades que designaram à nossa professora daquele período, a matéria nunca foi lançada on-line.