Isso vai ajudar a quem?
Essa é a pergunta que a maioria dos cidadãos se faz quando o assunto do desarmamento se torna a principal discussão social. Esta semana uma nova Media Provisória foi aprovada, a MP 390 que tornou mais de três milhões de armas ilegais em todo o país, uma vez que barrou o prazo para recadastramento que estava previsto até o final de dezembro. Pela nova MP duas novas categorias podem adquirir arma de fogo: nos órgãos públicos, menores de 25 podem possuir armas e a comprovação de teste de tiro e teste psicológico passam a ser banidos.
Com essa nova discussão volta ao centro das atenções uma questão bastante polêmica: existe relação entre a quantidade de armas de fogo e o número de homicídios? Um estudo realizado pela Unesco em 2004, chamado Vidas Poupadas, afirma que sim. O estudo mostra que depois do surgimento do Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o número de mortes diminuiu em 8,2%, comparando os anos de 2003 e 2004. Em 2003, o número de mortes por armas de fogo chegara a 39.325 mortes e em 2004 foram 36.119. No Paraná ,no entanto, não houve quedas. A pesquisa da Unesco afirma que os crimes com arma de fogo cresceram em 1,7% entre 2003 e 2004.
Somente neste ano, o Corpo de Bombeiros atendeu 2003 ocorrências por arma de fogo no Estado. No Paraná, o número de armas, de acordo com Sinarm (Sistema Nacional de Armas), de 1980 até o mês de julho deste ano, mais de 215 mil armas já foram regularizadas. Para as vítimas a Estatuto do Desarmamento não interfere em suas vidas. Para Jean Nunes de Oliveira, 25 anos, “mesmo que não tivesse armas teria sido agredido do mesmo jeito”. O caso de Oliveira se assemelha ao de muitos outros. Em abril de 2003, quando estava indo a uma mercearia comprar refrigerante, encontrou uma pessoa com quem tinha discutido há alguns anos, por causa de uma namorada, o seu rival disparou diversos tiros e Oliveira começou a correr, mas um dos tiros acertou a sua coxa. O tiro lhe causou a amputação de sua perna direita. O agressor, conhecido como Careca, não foi preso e ainda hoje eles se encontram. Para Oliveira o crime teria acontecido mesmo se não existissem armas, pois, para ele “quem quer tirar a vida de outra pessoa, não se preocupa com a lei, de qualquer forma faria com uma faca ou acaba conseguindo uma arma, só o cidadão comum não consegue se proteger”.
Para o sociólogo e coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “onde existem mais armas é maior a probabilidade de haver mais homicídios e suicídios”. Já para o especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil, Benê Barbosa, o fato de existirem mais armas não interfere no número de mortes. “Fizemos pesquisas que apontaram que no Rio Grande do Sul, santa Catarina e Paraná, por exemplo, onde há proporcionalmente mais armas legalizadas, havia menos registros de homicídios”.
Para quem está do outro lado, como é o caso de Elenildo dos Reis, 32 anos, viciado em heroína e dono de uma arma calibre 12, tanto faz existirem leis ou não. “Sempre que eu quiser vou achar uma arma e quem me queira vender, principalmente os policiais que são bons negociadores”. Já para Leandro Martins, 29 anos, “as armas são boas, se fossem ruins porque a polícia usaria?”. Leandro conhece bem o poder das armas, já que ele tem 12 balas espalhadas pelo seu corpo, lembranças de uma discussão com um traficante de São Paulo. No dia da discussão ele estava na companhia do seu irmão mais velho, que levou apenas um tiro e morreu. “Quando tem que morrer morre de qualquer jeito, até co uma picada de abelha. Meu irmão tinha que morrer e por isso foi pra outra.” Já no seu caso ele diz que não tem medo e que nem por isso deixou de usar cocaína, motivo pelo qual seu irmão foi morto. “Só Deus sabe a minha hora”.
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