Contra infarto, Inglaterra incentiva sexo

CLÁUDIA COLLUCCI da Folha de S.Paulo

O serviço de saúde inglês (NHS), uma espécie de SUS britânico, tem feito uma recomendação pouco ortodoxa como forma de prevenir doenças cardiovasculares: a prática de exercícios sexuais.
Em seu site oficial, o órgão diz que "sexercise" (exercício sexual) pode diminuir os riscos de ataques cardíacos e ajudar as pessoas a viver mais. "As endorfinas liberadas durante o orgasmo estimulam as células do sistema auto-imune."
Segundo o NHS, durante a relação sexual são usados todos os grupos musculares, o que faz com que "o coração e os pulmões trabalhem duro e haja uma queima de cerca de 300 calorias por hora".
O serviço afirma ainda que a produção extra dos hormônios estrógeno e progesterona, envolvida na relação sexual, ajuda a manter os ossos e os músculos sadios e previne rugas.
O NHS também dá dicas de como otimizar a vida sexual. Sobre orgasmo, aconselha: "Passe algum tempo consigo mesmo para aprender o que o excita". Também ensina exercícios para os músculos da pélvis. "Pare e reinicie seu fluxo de urina quando for ao banheiro. Depois disso, é possível se exercitar em qualquer lugar, a qualquer momento, em seqüências de dez a 20 contrações."
Sobre masturbação, o serviço diz que a prática é útil para explorar o próprio corpo. "Para homens, ajuda a conter a ejaculação, para que não ocorra cedo demais; para mulheres, facilita a chegada ao orgasmo."
Para a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP, a iniciativa tem "tudo a ver" com a prevenção de doenças cardiovasculares. "É um bom exercício, libera endorfina. Tem muita gente que detesta exercício em academia porque se sente excluído, um robô. O sexo é um tipo de exercício que inclui, que envolve afeto, carinho. Um é o personal trainer do outro", afirma a médica.
Para ela, sexo problemático pode estar associado a doenças cardíacas. "O coração é feito do mesmo tecido interno [endotélio] que reveste os órgãos sexuais. No homem, a disfunção erétil pode, muitas vezes, sinalizar uma doença cardíaca."
O cardiologista Otávio Rizzi Coelho, da Unicamp (Universidade de Campinas), afirma que existe um mito entre as pessoas que sofreram infartos ou outras doenças cardíacas de que o sexo seria contra-indicado. "Não faz mal. A quantidade de energia despendida não é muito grande. Pode, sim, ter uma vida sexual sem riscos adicionais."
Para ele, as orientações do serviço inglês são fundamentais para cardiopatas e para quem quer prevenir eventos cardiovasculares.

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