Seguindo na indicação dos filmes que tenho assistido, quero recomendar este documentário sobre a vida de um dos maiores, senão o maior sambista brasileiro. E não é preciso gostar de samba para apreciar uma boa produção!
O filme, lançado em 2006, conta a história do foi um dos principais nomes da Estação Primeira de Mangueira. Autor de sambas memoráveis, como O Mundo é um Moinho e As Rosas Não Falam, o sambista gravou o seu primeiro disco quando já estava bastante velho, poucos anos antes de morrer. Muitas de suas músicas se perderam - do próprio, por algum tempo, não chegavam notícias, e havia quem acreditasse que já estava morto. Foi encontrado por um jornalista em uma rua qualquer do Rio de Janeiro, ganhando trocados como guardador de carros.
O documentário que leva seu nome conta a sua história, de pedreiro a músico reconhecido - talento nato, daqueles só encontrados em um em meio a uma infinidade de homens. A frase famosa de outro sambista, Nelson Sargento, a seu respeito ("Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve"), poderia ilustrar bem o que foi a sua vida - um sonho tipicamente brasileiro.
O longa é fragmentado e procura ir além da reflexão a respeito da figura do sambista. Em um painel que inclui toda a sociedade, o longa discute a memória nacional e a formação cultural do país, que levou a disparates como este.
Angenor de Oliveira, o Cartola (1908 - 1980), só descobriu seu verdadeiro nome depois de muito tempo, já que sempre acreditou se chamar Agenor. Era pra ser assim, não fosse um erro do escrivão.
A trajetória do compositor carioca se mistura com a história do próprio samba no documentário dos diretores Lírio Ferreira (de Árido Movie) e Hilton Lacerda (roteirista de Amarelo Manga).
Batizado simplesmente de Cartola (precisaria mais?), o filme utiliza uma linguagem fragmentada para compor a vida do sambista, considerado por muitos, o maior de todos os tempos. Não há uma cronologia dos acontecimentos, mesmo porque não lhes interessa os dados da infância ou sobre a própria carreira do músico, e sim o espírito e a carga emotiva por trás da obra desse importante personagem. As canções aparecem aos montes, por vezes na própria voz de Cartola, outras nas vozes de cantores famosos que o gravaram. Também é muito bem explorado o arquivo fotográfico, filmado de uma forma que parece dar movimento ao velho sambista. Um movimento ao ritmo do samba de um dos gênios do gênero e uma das provas do talento instintivo do músico.
Vale a pena conferir, não sem antes deixar de lado preconceitos e amores, somente assim será possível visualizar esta obra em sua essência.
Premiações
Ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de Melhor Trilha Sonora, além de ser indicado na categoria de Melhor Documentário.
Curiosidades
O documentário sobre a vida de Cartola foi idealizado em 1998, por Lírio Ferreira e Paulo Caldas. Posteriormente Caldas deixou o projeto, entrando em seu lugar Hilton Lacerda.
Exibido na mostra Première Brasil, no Festival do Rio 2006.
O orçamento de Cartola - Música para os Olhos foi de R$ 1,2 milhão.
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